Felicidade engarrafada. Bottled Hapiness.

A comunicação, tal como diversas áreas de conhecimento, é uma área dinâmica e adaptável ao contexto social, económico, político e cultural em que se desenvolve. Atualmente, vivemos em que contexto? As campanhas são pensadas com um segmento – alvo. Mas há factores que são comuns a vários povos, a várias culturas, a várias regiões geográficas. Lá vamos nós mencionar o mesmo: a crise. A crise que é muito mais do que financeira, económica e política. A crise mundial que é social e cultural. A crise que é tão grave que já é uma crise humana. Como é que esmiuçámos isto? É evidente que o que está na origem de toda esta ruína humana é a fome; é a falta de poder económico para colmatar a falta de bens essenciais como a luz, a água, e o gás; é o desespero de não encontrar um emprego que nos proporcione uma esperança (ainda que provisória); é a percentagem de população que está a viver abaixo do limiar da miséria. Estes são os “desesperos” palpáveis. É a vontade de comer, de dormir e de respirar. Depois disto, ainda que caminhem de mãos dadas, vêm as emoções. Humanas. O desespero, a miséria de espírito, a falta de esperança, a falta de amor e de amizade (porque o lema passou a ser “salve-se quem puder”), ou o herói que nasce, fruto da compaixão, da empatia, da pena. Ainda que a crise toque, de uma forma ou de outra, a todos, existe algo que supera esta universalidade: as emoções. Não existe uma meia amizade ou uma meia esperança ou uma meia tristeza. Uma emoção é sentida. Não é meio sentida. Pode existir em diversos graus de intensidade. Mas uma vez sentida, ela entranhou-se, nem que por breves instantes, na nossa alma. Toda esta realidade só se mostra de uma forma para quem trabalha em comunicação: vamos dar às pessoas aquilo que as pessoas precisam. A Coca – Cola oferece felicidade , a Dove mostra-nos o que é a beleza real, e a Benetton faz renascer a esperança na integridade. Isto é só uma amostra do que por aí há e do que por aí vem. A melhor forma de vender um produto é criar uma emoção em volta desse produto que surge como promessa de existência dessa mesma no consumidor. A Coca-Cola é irmã da felicidade. Em tudo o que a Coca-Cola vende, existe um pingo de felicidade. Então porque é que eu não posso comprar um bocadinho de felicidade engarrafada e bebê-la até me sentir extasiada? Posso. Tenho um mundo de possibilidades emocionais para conhecer, escolher e adquirir. Mas preciso de ter dinheiro. Preciso de ter dinheiro para comprar amor, felicidade, amizade, esperança… Tudo muito bem. E se não tiver? E se não tiver maneira de comprar todas essas emoções prometidas e que se nos afiguram em montras transparentes e brilhantes? O que é pior para uma humanidade com o coração destroçado? Saber que a Dove promete às mulheres que elas são mais bonitas do que o que pensam, e acreditar que ainda existe magia e esperança ao fundo do túnel? Ou saber que existe um mundo inteiro de emoções à minha espera mas que eu não as posso ter?

Hate ou UnHate. Eis a questão. | Hate or UnHate. That is the question

A mais recente polémica do mundo publicitário (e não só) está relacionada, mais uma vez, com a Benetton. Importantes líderes políticos e sociais, que se encontram em orientações e ideologias contrapostas, beijam-se. Esta é a imagem que é explorada e associada ao slogan “UnHate”. Previsivelmente, a imagem do Papa Bento XVI, a beijar Sheik da mesquita Al-Azhar, foi banida da vista pública e considerada um ultraje contra a igreja católica. Fundamentalismos à parte, as imagens divulgadas e aceites pelo público de forma espontânea, mas também chocante, foram alvo de muitas críticas sociais, éticas, políticas e morais. Aceites por uns como postura política e por outros como símbolo de liberdade de expressão, estas campanhas atingiram o objectivo: fale-se bem ou fale-se mal, fala-se sempre sobre elas. O que me parece importante escrever, e encontro um grande número de indivíduos a desconhecer, é que esta campanha pertence à Fundação UnHate, fundada por Alessandro Benetton, e não à United Colors of Benetton. Esta arrojada campanha tem, então, o intuito de publicitar os valores da Fundação e não da marca. Valores estes que me parecem muito bem trabalhados, na medida em que a comunicação é perfeitamente apropriada aos objectivos da Fundação. O beijo foi escolhido como um gesto mundial de amor e de paz (essa velha máxima) e não como um gesto com alguma carga sexual incutida. O objectivo da Fundação é a cultura da tolerância, a não-violência, o amor pelo próximo, a compaixão e a esperança, os sentimentos positivos e a igualdade entre seres. Parece-me que os objectivos desta campanha são mais nobres do que o problema da irreverência na comunicação. Não são inéditos e podem até ser utópicos, mas, como em todas as campanhas que se revelaram inesperadas, os valores são o objectivo principal. Não é verdade que todos conhecíamos as imagens chocantes nos maços de tabaco, em França, alusivas aos malefícios dos cigarros para a nossa saúde? Não é verdade que as melhores campanhas do mundo sobre acidentes rodoviários são perturbantes e mostram o lado da realidade que nos aparece sempre camuflado e que preferimos não contactar? Em todos estes trabalhos de comunicação o objectivo foi mais nobre e relevante do que os problemas de susceptibilidade. A susceptibilidade é hoje muito relativa. Com tudo o que nos é entregue de bandeja, o nosso problema é a campanha UnHate? Soa-me a ultrajante é o que dissimulamos porque não queremos ver. E portanto, se não vemos a bem vemos a mal. Un – Hate.
________________________________________
The most recent controversy in the advertising world (and beyond) is related, once again, with Benetton. Important political and social leaders, who are in opposing orientations and ideologies, kiss each other. This is the image that is explored and associated with the slogan “UnHate.” Predictably, the image of Pope Benedict XVI, kissing Sheik of Al-Azhar mosque, was banned from public view and considered an outrage against the Catholic Church. Fundamentalism aside, the images posted and accepted by the public spontaneously, but also shocking, were the subject of social, ethical, political and moral critics. Accepted by some as political posturing and by others as a symbol of freedom of expression, these campaigns achieved the goal: no matter you speak well or you speak badly, you speak about them. What seems important to write, and I found a large number of individuals that ignore it, is that this campaign belongs to UnHate Foundation, founded by Alessandro Benetton, not to the United Colors of Benetton. This bold campaign aims to publicize the values of the Foundation and not the brand. These values seem to be very well worked and the communication is perfectly suited to the objectives of the Foundation. The kiss was chosen as a gesture of love and world peace (that old maximum) and not as a gesture with a sexual charge inculcated. The aim of the Foundation is the culture of tolerance, nonviolence, love to next, compassion and hope, positive feelings and equality among people. It seems to me that the objectives of this campaign are nobler than the problem of irreverence in communication. Are not unprecedented and may even be utopian, but, as in all the campaigns that have proved unexpected, the values are the main objective. It is not true that everyone knew the shocking images on cigarette packs, in France, alluding to the harmful effects of cigarettes to our health? It is not true that the best campaigns on road accidents in the world are disturbing and show the side of reality that always appears in disguise and we prefer not to contact? In all these works the aim of communication was more noble and important than the problems of susceptibility. The susceptibility is now very relative. With everything that is delivered to us on a platter, our problem is the UnHate campaign? What sounds outrageous to me is what we hide because we do not want to see. And so if we do not see gently we are going to see badly. Un – Hate.

A sustentável leveza do ser | The sustainable lightness of being

Vai falar-se de design sustentável. Outra vez de design sustentável. Parece-me que é um termo que anda “na boca do povo” e que, de tanto ser falado, já está gasto. Igualmente me parece que “quem conta um conto acrescenta um ponto” e, portanto, o conto sobre o design sustentável já se conta com muitos pontos acrescentados. Talvez a sustentabilidade, ou o seu valor agregado a um produto, já seja visto como tendência de moda mais do que necessidade premente de uma sociedade à beira da ruptura. Esta sociedade global foi, e é, mais assinalada pelo seu hiperconsumo e superpopulação do que propriamente pelos seus esforços de consciencialização. Em épocas de crise, e já transpusemos várias, procuram-se estratégias que nos aclarem a vereda. Procuram-se estratégias que nos tragam, miraculosamente, uma solução. Hoje, devem ser mudadas tanto as estratégias, como as tácticas e as políticas. O meio para atingir os fins é que deve ser repensado e não os fins sem meios. A principiar pelo pensamento, talvez se deva inverter um pensamento local que leve a uma actuação local, para um pensamento e actuações globais. Vamos instituir o pressuposto de que subsiste a necessidade iminente de um equilíbrio entre a oferta e a procura, um equilíbrio de produção e de consumo. A verdade é que este ciclo de oferta e procura foi vicioso. Este vício não nos é, agora, consentido. Devem observar-se estas problemáticas à luz de graves problemas ambientais, de comunidades no abismo da auto-suficiência, de uma economia recessiva e de alterações culturais e sociais sem precedentes. É nestes pressupostos onde actua o design sustentável que, deve escrever-se, é diferente de design ecológico. Este último abrange a preocupação com os materiais usados e as técnicas de produção dos produtos. O design sustentável abarca uma área tanto tangível como imaterial. Abarca comunidades inteiras que não se sustentam nem sobrevivem sem ajuda externa, abarca preocupações ambientais e de consumo, abarca técnicas de produção e, mais importante que tudo isto, fá-lo de forma a obter resultados positivos em comunidades e locais que requerem soluções. Para isto, mobilizam-se todas as áreas do saber, e todos os sujeitos que as personificam, para conquistar alterações optimizadas, tanto nas comunidades como no ambiente. Actualmente, já não é suficiente a consciencialização da problemática ambiental e ecológica, é preciso mobilizar esforços para materializarmos soluções que criem sustentabilidade através de um equilíbrio ambiental, financeiro e cultural. O design sustentável actua, ou deve actuar, em todas as áreas, em todos os sectores, nas mentes colectivas e na mente de cada um. O primeiro passo é, sim, a consciencialização do contexto em que nos inserimos presentemente. Mas não pode trabalhar e definir-se o objectivo como sendo apenas a sensibilização. Devem materializar-se soluções, deve actuar-se em conjunto e conjugar conhecimentos e experiências. A sustentabilidade parte do ser. Do meu, dos vossos e dos que vêm.

 

It is going to be spoken about sustainable design. Again of sustainable design. It seems to me that it is a term that walks “in the mouth of the people ” and that, of so much being spoken, already it is spent. Equally it seems to me that “the one who counts a story adds a point” and, so, the story of sustainable design has already many added points. Perhaps the sustainability, or his value added to a product, already is seen as a fashion trend more than a pressing necessity of a society on the edge of the break. This global society was, and it is, more marked by his hyper consumption and overpopulation than properly for his efforts of raising awareness. In times of crisis, and we already transposed some, we looked for strategies that clarify us the path. There for are looked strategies that swallow us, miraculously, a solution. Today there must be changed both the strategies, and the tactics and the politics. The way to reach the ends is which should to be rethought and not the ends without the ways. Beginning for the thought, perhaps it should be alter a local thought that leads to a local acting, for a thought and global actings. We are going to set up the presupposition of which the imminent necessity of a balance exists between the offer and the search, a balance of production and of consumption. The truth is that this cycle of offer and search was vicious. This vice is not, now, allowed to us. These problems must be observed by the light of serious environmental problems, communities in the abyss of the auto-sufficiency, of an economy that is sinking and of unprecedented cultural and social alterations. It is in these presuppositions where the sustainable design acts and that, must be written, is different from ecological design. The last one includes the preoccupation with the worn-out materials and the production techniques of the products. The sustainable design comprises an area so much tangible like immaterial. Comprises whole communities that are not supported, do not even survive without extern help, comprises environmental and consumption preoccupations, comprises production and, more important than completely this, it does it in the form to obtain positive results in communities and places that are needing for solutions. For this, all the areas of knowledge are mobilized, and all the subjects that personify them, to conquer optimized alterations, both in the communities and in the environment. At present, there is not sufficient the raising awareness of the environmental and ecological problematics, it is necessary to mobilize efforts in order to materialize solutions that create sustainability through an environmental, financial and cultural balance. The sustainable design acts, or must act, in all the areas, in all the sectors, in the collective minds and in the mind of each one. The first step is, yes, the raising awareness of the context in which we insert ourselves at present. It cannot work if only we define that  the objective is only the awareness. Solutions must materialize; we must act together and conjugate knowledges and experiences. Sustainability starts on our being. Of mine, of yours and from what they come.

Porquê Acari | Why a courteous analyzis of revisited ideas?

Ideias revisitadas e análises corteses. Qual será a ligação de tão dissemelhantes noções? O sustentáculo deste blog partiu exactamente destes dois conceitos. Sendo este um espaço criado com base nos fenómenos de moda e nas alterações, tanto comunicacionais como estruturais, das marcas de moda, foi quase mecânica a noção de ideias revisitadas. Se a moda nos aparece como um reflexo fidedigno do estado sociológico, cultural e económico (muitas vezes até político) em que se encontra a humanidade, de um modo geográfico geral ou particular, também se mostra como um eco do passado e do presente. De um passado influenciador e progressivo. De um passado que nos levou onde nos encontramos. Não é de conhecimento geral a visita que se tem feito às silhuetas e paletas das últimas décadas do século passado? As tendências de lifestyle não se aconchegam a tendências passadas? Parece-me que encontramos aqui a noção de ideias revisitadas. Se existe alguma coerência na moda é a criação de uma ideia, que à partida nos parecerá efémera, e que umas temporadas mais tarde será trazida de volta. Como se de um sinal de respeito e cortesia se tratasse para com uma ideia defunta. O objectivo deste blog vai por este caminho: as ideias são criadas por alguém mas aqui são analisadas e esmiuçadas. Analisam-se respostas, soluções, criações positivas ou desastrosas. Analisam-se todos estes tópicos. Mas de forma cortês. Porque o passado merece essa gentileza da nossa parte. Por nos trazer onde nos encontramos. Por nos dar ideias para revisitar.

 

Revisited ideas and courteous analysis. What is the connection of such dissimilar notions?The mainstay of this blog went exactly from these two concepts. Since this is a space created on the fashion phenomenons and the changes, both structural and communicative,of fashion brands, it was almost mechanical the notion of revisited ideas. If the trend appears to us as a true reflection of the sociological, cultural and economical state (often even political) in which humanity finds itself, in a general or private geographical way , is also an echo of the past and the present. Of an influential and progressive past. From a past that brought us where we are. Isn’t it common knowledge that fashion brought again the silhouettes and palettes of the last decades of the last century? The trends in lifestyle does not huddle over past trends? It seems to me that we find here the notion of revisited ideas. If there is some consistency in fashion is the creation of an idea, which initially will seem ephemeral, and that a few seasons later will be brought back. As a sign of respect and courtesy to a dead idea. The purpose of this blog goes this way: the ideas are created by someone but here, they are analyzed and scrutinized. We analyze answers, solutions, positive or disastrous creations. We analyze all these topics. But courteously. Because the past deserve this kindness on our part. For bringing us where we are. For giving us ideas to revisit.